EXISTÊNCIA DO PERISPÍRITO E DESDOBRAMENTO DA PERSONALIDADE

Desde que foi constatada a existência do perispírito, abriu-se novo campo de estudos da Vida, e a Moderna Psicologia, com os seus princípios de livre exame e suas recomendações de experimentação e pesquisa, veio ampliar os estudos que se faziam sobre a Vida, demonstrando, cabalmente, que a alma não é o produto, o resultado das funções nêuricas e cerebrais, mas, ao contrário, é a causa dessas funções, como o maquinista é o agente que faz funcionar a maquina, e o músico é o autor da melodia.

Escreve Gabriel Delanne4

“Na formação da criatura vivente, a vida não fornece, como contingente, senão a matéria do protoplasma, matéria amorfa, na qual é impossível distinguir o menor rudimento de organização, o mais pequeno indício daquilo que será o ser vivente. A célula primitiva é absolutamente a mesma em todos os vertebrados; nada indica em si que ela dará nascimento a tal indivíduo de preferência a tal outro, pois que a sua composição é idêntica para todos. Convém, portanto, admitir, aqui, a intervenção de um novo fator, que determine em que condições será construído o edifício vital. É ao perispírito que é necessário recorrer-se, porque ele contém em si o desenho determinado, a lei onipotente que servirá de regra inflexível ao novo organismo, e que lhe designará, segundo o grau da sua evolução, o lugar que deverá ocupar na escala das formas"...

É preciso que fique bem esclarecida a existência do perispírito para se compreender com facilidade a imortalidade da alma.
O perispírito não é uma criação nova destinada a resolver dificuldades. Ele representa o corpo da alma, pois não se poderia conceber uma alma sem corpo.
Esse organismo é conhecido dos antigos cristãos. São Paulo denominou-o corpo espiritual. Tertuliano diz que a corporeidade da alma é afirmada nos Evangelhos:
Corporalitas animae in ipso Evangelio relucescit; e acrescenta: se a alma não tivesse um corpo, a imagem da alma não teria a imagem do corpo. "DE ANIMA". (cap. 7, 8 e 9).

“EVOLUÇÃO ANÍMICA

Santo Agostinho recebeu do Bispo Evódio, de Uzale, uma carta na qual este fazia referência a muitas aparições que havia visto, e para bem explicar a natureza desses fenômenos, que ele atribui às almas de defuntos, pergunta:

“Quando a alma abandonou esse corpo grosseiro e terrestre, não permanece a substância incorpórea unida a algum outro corpo, não composto dos quatro elementos como este, porém mais sutil, e que participa da natureza do ar ou do éter? Acredito que a alma não poderia existir sem corpo algum". "OBRAS DE SANTO AGOSTINHO”, f. 2.º".

São João de Tessalônica, fez a seguinte declaração no 2º concílio de Nicéia (787): "Sobre as almas, a Igreja decide que são, na verdade, seres espirituais, mas não completamente privados de corpo, ao contrário, de um corpo tênue, aéreo ou igneo".

Mas não é só o testemunho dos ilustres doutores que podemos lembrar, pois todos os psicólogos antigos e modernos têm feito referências ao corpo que envolve a alma, dando-lhe somente um nome diferente do que usamos, de acordo sempre com o idioma que usavam: em hindu, Linga-Sharira; em hebráico, Nephes; em egípcio, Ka ou Bai; em grego, Ochéma. Pitágoras nomeava-o Eidolon ou carro sutil da alma; Cudworth (filósofo inglês), mediador plástico; os ocultistas e teosofistas chamam-no corpo astral.

Com a constatação desse corpo a Ciência deu um grande passo, pois agora se explica magnificamente o mistério da forma específica do indivíduo, o desenvolvimento embrionário e pós-embrionário, a constituição e a manutenção da personalidade, as reparações orgânicas e todos os outros problemas gerais da Biologia, que a ideia diretriz de Claude Bernard, espécie de entidade metapsíquico-biológica, tornava incompreensíveis e confusos.

A resolução do problema da vida, como o da morte, depende, exclusivamente, do estudo do perispírito, cujas provas são tão abundantes que podem ser até demonstradas pela fotografia.

Os leitores talvez conheçam os trabalhos do Comandante Darget, do Dr. Baraduc e do Conde De Rochas, que põem em foco o duplo humano. As provas apresentadas por estes investigadores são positivas e não admitem contestação.

Enfim, a bilocação dos médiuns é um fato digno de estudo. A este respeito, o Spiritualist, de 1875, publicou um caso muito interessante, que o Dr. Gabriel Delanne aproveitou para ilustrar uma das suas obras.

Eis a narrativa:

“Um negro chamado H. E. Lewis possuía grande força magnética, da qual fazia exibição em reuniões públicas. Em Blackeat, no mês de fevereiro de 1856, numa dessas sessões, ele magnetizou uma moça a quem nunca tinha visto. Depois de a ter mergulhado em sono profundo, ordenou-lhe que fosse até a casa dela e que, em seguida contasse ao público aquilo que tivesse visto. Ela declarou, então, que via a cozinha e que aí se achavam duas pessoas ocupadas em trabalhos
domésticos. Lewis mandou que tocasse numa dessas pessoas. A rapariga começou a rir e disse:

‘Toquei-as, porém elas estão com muito medo!’

Voltando-se para o público, Lewis perguntou se alguém conhecia a rapariga. Sendo-lhe respondido afirmativamente, propôs que uma Comissão fosse ao seu domicílio. Diversas pessoas prontificaram-se a isso, e, quando voltaram, confirmaram em todos os pontos o que a rapariga havia dito.

A casa estava efetivamente numa balbúrdia e em profunda excitação, porque uma das pessoas, que se achavam na cozinha, declarara ter visto um fantasma, e que este lhe tocara o ombro.

Inúmeros casos destes são relatados nos anais do Psiquismo. Haja vista Santo Antônio de Pádua, aparecendo em Lisboa para livrar seu pai da forca.

O Senhor Brackett, investigador muito prudente e céptico, assim se exprime quando trata de dar o seu testemunho a fatos de igual jaez:

"Vi centenas de formas materializadas; em muitos casos, o duplo da médium era tão parecido, que eu teria jurado ser ele o próprio médium, se não tivesse visto este duplo desmaterializar-se à minha vista, e, imediatamente depois, verificada que o médium estava adormecido".

Um caso mais recente foi noticiado pela “REVUE SPIRITE”; passamo-lo para estas páginas, a título de curiosidade:

“Um bispo sueco, visitando as igrejas da Lapônia, encontrou um mágico lapão, a quem repreendeu por espalhar a superstição, utilizando-se de suas faculdades à procura de objetos roubados, desaparecidos, etc. O mágico resolveu propor uma experiência, e o bispo pediu-lhe que dissesse o que fazia naquele momento, sua família em Upsala. Então o lapão mergulhou num êxtase tal, que o médico chamado ficou inquieto pela sua vida, visto que parecia estar sem consciência, como morto. Meia hora depois, voltou ao seu estado normal e disse ao bispo que sua senhora e uma menina, naquele momento, escamavam um peixe na cozinha, em Upsala. Para demonstrar bem que seu duplo tinha estado lá, em casa do bispo, pegou no anel da senhora, que ela tirara do dedo para preparar o peixe, e escondeu-o no caixote de carvão, na cozinha. Quando chegou a Upsala, o bispo fez-se acompanhar de testemunhas e dirigiu-se imediatamente à cozinha, encontrando o anel precisamente no lugar indicado pelo lapão. A senhora confirmou quede fato, naquele dia e hora, estava a arranjar um peixe, para o que havia tirado, do dedo, a aliança de casamento, tendo a perdido. Ela e a criada tinham visto um lapão (coisa rara em Upsala) de pé na cozinha, sem que o tivessem sentido entrar, e o qual desaparecera misteriosamente. A visão fora tão real, que ela se dirigira à polícia a queixar-se do lapão pela falta do anel, ao que a polícia respondera não ter podido encontrar, em Upsala, o menor vestígio do lapão, presumido ladrão".

Parece claro que, se ainda vivo, o homem pode ser visto fora do seu corpo, é que a sua personalidade não consiste somente nesse corpo. Melhor testemunho da existência da alma revestida de seu corpo psíquico, ou perispírito não pode existir, além de que, como já vimos, a fotografia constata a veracidade desse princípio.