Volta ao Nordeste

Wanderlino Arruda

É bom fazer uma reciclagem do Brasil, principalmente quando voltarmos ao Nordeste, terra irmã e prima de nossa Minas Gerais, principalmente deste sofrido Norte de Minas, também parte do polígono de poucas chuvas.

Minha alegria começou já na sexta-feira, quando recebo convocação para estar em Fortaleza às 8 horas da próxima terra, cabeça e disposição preparada para um período de aulas para colegas supervisores do Banco do Brasil. Em Montes Claros, ainda, uma corrida para deixar tudo normal, as leituras de véspera, a organização dos planos de trabalho, os endereços de amigos do Ceará.
Quando viajamos para longe, preocupações não devem ficar para trás.

Numa tarde bonita de segunda-feira, Olímpia me leva ao Aeroporto e fica comigo até os últimos instantes, até que o Bandeirante levantou vôo. Da janela pequena vejo embaçados os movimentos das mãos em despedida. No chão fica Montes Claros. Em cima, voando, poucos passageiros: um diretor da Nordeste, um piloto de férias, um gauchão ou americano não sei, uma geóloga paulista que vai para Brumado, uns fazendeiros, um homem de colete, paletó, gravata, óculos escuros que só em Guanambi vim descobrir que era o cantor Waldique Soriano (Eu não sou cachorro não). O mais era a tripulação que, a certa hora, ofereceu-nos um cafezinho, mas encolheu a garrafa, de modo que ninguém aceitou.

Na paisagem baiana, Guanambi, Brumado, Vitória da Conquista: três pousos, um guaraná corrido para espantar o calor e nova subida de escadas. Em Guanambi uma surpresa agradável pelo desenvolvimento econômico visto do ar: alguns prédios bem altos no centro da cidade, ruas certinhas e, ao redor em longa extensão de lavouras mecanizadas, bonitas, com técnica parecida com o que é feito do Sul de Minas para baixo.
Já noite, pouco antes das sete, as luzes maravilhosas da capital da Bahia, a cidade do Salvador: muito mais bonita de cima do que de baixo, um místico encano de curvas luminosas como se fossem pespontos de uma costura do mar e das montanhas, suaves como a própria noite.

Depois de duas horas num lindo aeroporto, moderno, de linhas arrojadas, depois de telefonemas a amigos, a viagem continua para o Recife, vôo da Cruzeiro. Que grande alegria ver de novo, mesmo do ar, a capital dos pernambucanos: praia da Boa Viagem bem iluminada, o Capibaribe, o centro, toda uma grande cidade viva e palpitante. No chão, poucos minutos só tempo de desembaraçar a bagagem, pois o placar eletrônico já anunciava embarque imediato no 767 Air Bus da Varig. Um bêbado que ia para o Rio de Janeiro ainda me dificulta a apresentação, mas chego a tempo de ocupar um lugar de privilégio (por não ser fumante) num salão aéreo que mais parece de um palácio. Som individual, telão de cinema, revistas e jornais novos e virgens de manuseio, a “MAITRE” dirigindo os garçons a servir champanhe em copos de cristal e mesas cobertas com toalhas impecáveis. Uma distância enorme da terra e da realidade brasileira. Não dá nem para notar o tempo que passou entre Recife e Natal, de novo um desfilar de luzes de uma cidade bem traçada e bonita, talvez a mais bem urbanizada do Nordeste.

Já era madrugada quando, por cima do oceano, chegamos a Fortaleza: lá embaixo a praia do Futuro, a praia de Iracema, a Castelo Branco, a Bezerra de Meneses, ao aeroporto. Desce a aeronave, e as luzes misturam-se com os movimentos e, de novo em chão firme o local de destino, onde o trabalho espera logo mais quando o dia amanhecer, com sol ou com chuva. Como lição, vale o sentimento de grandeza do Brasil: um grande continente mesmo se visto pela metade.