O
pré-historiador
Wanderlino
Arruda
É
interessante como cada pessoa vê,
por um ângulo de total individualidade,
cada acontecimento ou cada fato que lhe
é apresentado. Houve até
um filme francês – “La
verité”, estrelado por Brigite
Bardot – um tipo de processo criminal
com sete testemunhas, inclusive da autora,
cada qual respeitando um pondo de vista
diferente, um prisma de observação
em nada coincidente um com os demais.
Cada pessoa, personalisticamente tinha
um ângulo da história, tinha
sua verdade, consciente e definitiva.
E assim tem sido tudo na vida, cada historiador,
cada repórter vendo do seu lado,
do seu ângulo, tudo interpretando
de acordo com seu próprio campo
de conhecimento, sua base de cultura.
Sai,
agora, um livro do meu confrade de Academia
de Letras, Leonardo Campos – “O
Homem na Pré-História”
– descrição e narrativa
principalmente de conterrâneos nossos
desse sofrido polígono das secas
norte-mineiro, de qualquer coisa aí
pela casa dos dez mil anos ou mais, tempo
tão antigo que nem mesmo nossa
memória ancestral tem condições
de trazer ao momento atual. Diversos companheiros,
entre todos os Arthur Jardim, o José
Gonçalves de Ulhoa, o José
Alves Macedo, o Simeão Ribeiro
Pires e, mais recentemente, o Haroldo
Lívio, se derem ao trabalho de
análise e contemplação
da obra do jovem historiador dos trogloditas
patrícios. O Haroldo chega a fazer-me
uma chamada na sua crônica, perguntando-me
se de fato, o autor é mesmo um
pré-historiador. O interessante
é que todos, frente ao mesmo material
de consulta, concordam no essencial, divergindo-se,
porém, nos enfeites do bolo nos
confetes da festa. Cada qual, parece,
tem uma graduação diferente
nas lentes carnais dos olhos.
Congregados
todos os analistas no valor de “O
Homem na Pré-História”,
têm sido unânimes no papel
que desempenhará, doravante, o
jovem escritor no campo da arqueologia,
da espeleologia e da paleontologia. Prevendo
um bom destino, tanto entre cientistas
como entre o vasto campo dos leigos, todos
parecem sorrir diante de nova oportunidade
aberta aos estudiosos e interessados em
conhecer os segredos que nossas cavernas
conservavam escondidos, ou que não
tinham vindo ainda à luminosidade
da ciência escrita em livro, normalmente
trabalho mais sério do que em simples
folha de jornais e revistas. Coube a Leonardo
Campos seguir a trilha bem iniciada pelos
seus mais diretos incentivadores, ou doutores
da arte rupestre, Macedo, Simeão
e Jardim. É muito bom que tenha
seguido com sucesso!
Há
pouco tempo, ciceroneado pelo meu colega
de trabalho Sebastião Noronha,
e guiado por jovenzinho vaqueiro chamado
Pedro, calmos e misteriosos como tudo
que existe em Itacambira, visitei a Lagoa
Vopabuçu, emocionado, o sítio
onde refletia, há trezentos anos,
o brilho da Serra Resplandescente, ponto
final da banheira de Fernão Dias
Pais Lema. Que coisa mais linda é
a felicidade na vida da gente! Não
existem valores para medir o encantamento
da visão direta da história
do homem! Guiados por Pedro, ele descalço
e calejado, com dificuldade subimos os
duzentos metros que nos levaram a uma
caverna, onde estão ainda com sabor
de novidade os desenhos rupestres que,
tudo indica, passam dos dez mil anos,
em tudo parecidos com outros existentes
no Norte de Minas e em outras regiões
do mundo.
Foi
a caverna da Serra Resplandescente, em
Itacambira, que pude avaliar a força
das pesquisas de Leonardo Campos, sua
devoção aos estudos, santa
curiosidade de troglodita moderno que
nos revela, assim de uma hora para outra,
que nós não somos um elo
isolado da história da humanidade.
Tivemos parentes próximos desde
os tempos da pré-história...
e ali, bem pertinho na terra de Sebas
Noronha.