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João Batista de Paula

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Sobre o meu Patrono João Batista de Paula, quero grafar em letras de múltiplos entendimentos, e em ângulos próximos e distantes, as múltiplas facetas de uma criatura que foi dada por Deus ao mundo, para do mundo a Deus dar parte grande, como diria se conterrâneo fosse, o gênial Luiz de Camões.

Teve muita sorte quem viveu ao mesmo tempo que João de Paula, e com ele conviveu, principalmente os da infância e da maturidade: Hermes e Maria, os irmãos; Luiz, Antônio e Cassimiro, os primos; D. Leo, a esposa; Hiran, Acácia, Paulo, Carlos, Neusa, Verônica, Fabíola, Graça, Raquel e Marta, os filhos.

Em primeiro lugar, a crônica escrita longe no tempo e no espaço e já publicada muitas vezes, texto que leio sempre e o faço com grande carinho e imensa saudade. Depois os dados da cidadania. E por último, o resumo biográfico como presidente da Fraternidade Espírita Canacy, cargo que ele exerceu com o máximo de fé e eficiência.

- Em forma de crônica       

Ainda em Brasília, final de período de trabalho, já com os olhos no caminho para Montes Claros, recebo uma notícia sobre o grande amigo e bom vizinho da Rua São Sebastião, Todos os Santos. Olímpia me diz com tristeza, numa voz de muita saudade, que João de Paula acabara de nos deixar. Sereno, seguro, sem alarido, cheio de fé como sempre viveu, uma quase alegre e justa sabedoria, dia-a-dia dono do próprio destino. Sempre o vi como um homem sábio, racional, ilibado, de bons costumes, limpo e puro, religiosamente livre como um condor de grandes alturas. Um mestre que encantava a todos, principalmente nos últimos anos de uma vida quase mística, iluminando-se com as próprias pirogravuras de umburanas, cedros e bálsamos - madeiras que perfumam e clareiam corpo e alma, e até os nossos sonhos. Mas, como tudo passa no plano físico, João de Paula também tinha que passar. Chegou a hora dele, como a nossa haverá de chegar!

Agora, já mais distante, ermo em perspectiva, faço distância para ver melhor o companheiro e irmão. Para ver e analisar, para ver e admirar e para ver e sentir. Mais de longe é possível vê-lo por inteiro, de pé a caminhar firme num destino traçado por Deus e por ele mesmo, cavaleiro andante de muitas venturas e aventuras. João poetou a vida no que ela tinha do colorido mais suave e mais santo.

De pouca ambição e muita coragem, João fez da existência um doce combate, uma luta inteligente e sem pressa, mesmo quando se sentia vencido e vencedor ao mesmo tempo. Um homem de horizonte sempre azul como costuma dizer o seu primo Luiz de Paula, outro da mesma coragem e do mesmo sangue. João de Paula foi um homem da cor do céu, brilho de turquesa e cobalto, uma intensa luz infinita em dia claro.

Mas como era mesmo o cidadão, marido de D. Lea e pai de Iran, Paulo, Carlos, Acácia, Verônica, Marta, Graça, Raquel, Neuza e Fabíola? Como era o irmão de Hermes e de Maria de Paula? Como era o futuro químico que deixou os estudos para se casar, mas que, farmacêutico em Pires e Albuquerque, receitava e curava doentes? Como era o comerciante, o industrial, o artista, o filósofo, o maçom, o rotariano, o espírita, o contador de estórias, o cronista, o poeta, o conselheiro? Como era o amigo solidário de todos os amigos? Como era o homem de nunca esconder ideias, de nunca ter medo de ser verdadeiro? Como era e como foi João de Paula?

Quem o conheceu é que pode saber quem ele foi. Que memória prodigiosa de historiador e genealogista, que narrador empolgante, que grande cultivador de amizades. Tolerante e de incrível capacidade de perdão, João foi um sábio abridor de caminhos para ensinar bondade a muita gente. Oitenta e três anos de magistério de amor, mensageiro de luz! Desta mesma luz - que pedimos a Deus -  iluminará sua trajetória de eterno trabalhador.

 

 - O cidadão

João Batista de Paula nasceu em Montes Claros, em 23 de junho de 1906. Filho de Basílio de Paula Ferreira e Joaquina Xavier de Mendonça. Curso primário no Grupo Escolar Gonçalves Chaves, Preparatórios em Belo Horizonte, Escola de Farmácia em Juiz de Fora.

Preferiu casar-se  já como prático em farmácia, montando uma botica em Pires e Albuquerque. Um lindo tempo, uma rica forma de viver e conviver do lado de fora e do lado de dentro do balcão, tendo em cada freguês um amigo. Vendas à vista e com anotações em caderneta. Por falta de médicos e sem perigo de erros, quase sempre tinha que aviar receitas.

Desde o seu tempo do internato, colaborava em vários jornais: prosa e verso, gênero satírico, humorista, histórico. Como o seu primo Antônio de Paula, era excelente charadista, tanto para fazer como para decifrar. O temas que mais se destacaram: gripe espanhola e Centenário de Várzea da Palma. De destacada memória, foi um competente acessor do historiador Hermes de Paula.

João de Paula foi um notável artífice competente escultor de pilões, gamelas e colheres decorativas. Foi companheiro, mestre e aluno do grande artesão Tibúrcio, o mais famoso até hoje na arte da escultura em madeiras.

Reconhecido pesquisador na área de química, foi fabricante de vários tipos de licor de pequi e de  groselha, indústria que lhe dava uma boa renda. Estúdio e laboratório na Rua Dom Pedro Segundo, entre as Ruas Desembargadora Veloso e Rua Afonso Pena.
 
Pintor primitivista, pintou um elevado número de aquarelas, principalmente com figuras  geométricas. Muito incentivado pelo modernista Konstantin Christoff.

Ceramista e pirogravador, destacou-se como criador de vasilhames decorativos e desenhos em cabaças.

 Músico, folclorista, soube incentivar as filhas Acácia, Verônica, Raquel, Marta, Fabíola e Neusa a tocar piano e violão. Em muitas noites, tocava violão e declamava com Verônica. Foi também um incentivador na arte de falar em público, pois mestre em oratória.  
    
D. Leo – Leodegária Soares Maldonado, agora já com mais de cem anos, sua companheira e orientadora, foi enquanto possível, mestra de violino e pintura.

Vale destacar aqui o irmão Hermes de Paula, médico, folclorista e historiador, nascido também em Montes Claros, em 6 de dezembro de 1909, eterno amigo e companheiro, ao mesmo tempo incentivado e incentivador. Dois notáveis e amados montes-clarenses.

O presidente da Fraternidade Espírita Canacy

Importante montes-clarense, farmacêutico, químico. Sereno, seguro, sem alarido, cheio de fé como sempre viveu, quase alegre e justo sabedor do próprio destino. Homem sábio, racional, de costumes ilibado, religiosamente livre como um condor de grandes alturas. Um mestre que encantava a todos, principalmente nos seus últimos anos -  arte quase mística, pirografando umburanas, cedros e bálsamos, madeiras que perfumam o corpo e a alma.

Comerciante, industrial, artista, filósofo, maçom, rotariano, espírita, cronista, poeta, conselheiro, folclorista e contador de estórias, João de Paula foi uma criatura admirável em todos os sentidos. Exerceu praticamente todos os cargos da Fraternidade Espírita Canacy. Foi um grande e eficiente presidente, tanto no trabalho didático-pedagógico como nos serviços sociais e na administração.

- O maçom

Conhecido e reconhecido membro da Loja Maçônica Deus e Liberdade, foi iniciado em 10 de agosto de 1934, dois anos depois da fundação. Elevado em  7 de maio de 1935, foi exaltado em 14 de agosto de 1936. Ocupou, conforme o destaque no livro “Deus e Liberdade, uma Loja Octogenária”, do irmão Itamaury Teles de Oliveira, os cargos de Tesoureiro e de Segundo e Primeiro Vigilante; Foi destacado e inesquecível Venerável Mestre, em dois mandatos, de 1958/59 e 1959/60. Delegado do Grande Oriente de Minas Gerais, recebeu a Medalha José Baesso, em 12 de setembro de 1977.

Wanderlino Arruda